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Janeiro 20, 2022

As manchas indesejáveis da nossa pele (2ª parte)

Nesta 2ª parte do artigo “As manchas indesejáveis da nossa pele” debruçamo-nos sobre os tratamentos dos principais tipos de manchas cutâneas.

Nesta 2ª parte do artigo “As manchas indesejáveis da nossa pele” debruçamo-nos sobre os tratamentos dos principais tipos de manchas cutâneas.
Na 1ª parte do artigo, que pode ler aqui, fazemos um enquadramento completo do universo das manchas, importante se não estiver à vontade com o tema.

 

Cantabria Labs: Devem preocupar-nos as manchas cutâneas?

MT: Na verdade são uma questão importante, já que por um lado estes problemas de pigmentação podem produzir stress e ansiedade, repercutindo-se negativamente na qualidade de vida dos pacientes, e por outro, em certos casos, como as situações ligadas ao fotoenvelhecimento, podem traduzir uma maior probabilidade de desenvolver cancro da pele.

Para além disso, não devemos esquecer que o melanoma (um dos tumores mais agressivos) começa por manifestar-se como uma mancha de crescimento progressivo e de cor geralmente castanha, atípica, pelo que perante o aparecimento ou crescimento de uma mancha castanha devemos sempre consultar um dermatologista e descartar que se trate de um melanoma maligno.

 

Cantabria Labs: Que manchas devem examinar-se?

MT: Em geral, recomendamos o exame de qualquer mancha que surja na pele, já que como dissemos o mais importante é descartar a malignidade. Mas é igualmente importante um diagnóstico inicial já que irá permitir um tratamento adequado, desde o primeiro momento, e irá evitar complicações que possam surgir em certos tipos de pigmentação quando se aplica um tratamento ou cuidados inadequados.

 

Cantabria Labs: É possível eliminar as manchas?

MT: Existem diferentes métodos para as eliminar, com algumas particularidades dependendo do tipo de mancha. Vamos ver em pormenor os diferentes tipos de hiperpigmentação ou de manchas que mais observamos em dermatologia estética, assim como os tratamentos que recomendamos para cada um dos casos: melasma, lêntigos solares, hiperpigmentação pós-inflamatória e escurecimento periocular.

(1) Melasma. O que é?

O termo melasma (também conhecido como cloasma quando aparece durante a gravidez) refere-se à aparição de manchas escuras de limites irregulares bem definidos, afetando geralmente a região facial, em 90% dos casos, e mais raramente com afetação extra-facial como por exemplo nos braços. Trata-se de uma patologia cutânea muito frequente em mulheres em idade reprodutiva, especialmente entre as mulheres que tomam contraceptivos orais, sem que isto seja determinante.

É considerada uma doença crónica, já que a tendência para a pigmentação e a produção de manchas após exposição ao sol prolonga-se geralmente por vários anos. E por afetar a região facial produz uma grande ansiedade com repercussões negativas na estética da face. Aparecem geralmente na testa, lábio superior e bochechas.

Qual é a causa do melasma?

Existe um fundo hormonal muito importante já que ocorre com mais frequência entre mulheres grávidas ou as que tomam contraceptivos orais. É especialmente frequente em mulheres de fototipos escuros, mas também pode afetar os homens (10%).

Os estrogénios e a exposição ao RUV são os dois fatores mais importantes no seu desencadeamento. Os fatores hormonais são considerados predisponentes, mas a exposição solar é imprescindível para o desenvolvimento de lesões deste tipo. Na verdade, é no período após as férias que diagnosticamos novos casos de melasma e também antigos melasmas reativados, já que é na época estival que a exposição solar ao RUV é mais intensa, dada a maior atividade ao ar livre e a maior exposição solar na montanha ou na praia. Por outro lado, existe a predisposição genética individual. Na derme foi também descrito um aumento do fator libertado por fibroblastos e queratinócitos (stem cell), em resposta à radiação RUV.

Há fatores bem identificados que podem agravar um melasma existente:

-Exposição solar

-Calor (por exemplo, devido à depilação com cera ou de laser inadequado)

-Irritação cutânea

Que tratamentos existem?

Deixar de tomar os contraceptivos orais, embora esta opção nem sempre se revele eficaz, pois existem casos em que 5 anos após a interrupção dos contraceptivos orais ainda persiste o melasma.

A fotoproteção solar será um passo imprescindível para lidar com o melasma. É fundamental o uso de um bom filtro solar, com um fator de proteção que cubra o espectro de UVA, UVB e luz visível. Também é importante aplicar esse protetor com regularidade (de 2 em 2 horas), mesmo no inverno e sempre na quantidade recomendada. Pode-se também combinar com outros fotoprotetores, que atuam através de outros mecanismos, como a vitamina C e E. Também se recomenda a fotoproteção física com chapéus.

No que toca aos tratamentos despigmentantes, existem vários princípios ativos, dos quais destacamos os corticóides de baixa potência, o ácido kójico, a arbutina, o ácido azelaico, os alfa hidroxiácidos, os beta hidroxiácidos ou retinóides.

Também é recomendável a combinação com tratamentos físicos como os peelings (à base de glicólico, salicílico ou fenol em baixas concentrações) ou até lasers específicos e a combinação de princípios ativos orais que diminuam a inflamação produzida pela RUV, como por exemplo o polypodium leucotomus.

O tratamento deve manter-se até que desapareçam as manchas, mas dada a tendência de reincidência e recorrência, a fotoproteção solar deverá prolongar-se no tempo e também podem manter-se algumas formulações tópicas, por exemplo, à base de retinoides, que para além de servirem de manutenção servem como tratamento anti-envelhecimento.

 

(2) O que são os lêntigos solares?

Até 90% de pacientes com fotoenvelhecimento apresentam lêntigos solares, que consistem em manchas em forma de lentilha, de cor acastanhada, bem delimitados e de tamanho pequeno (1cm ou menos em média). Aparecem na região facial, peito e costas das mãos principalmente, e é mais comum surgirem a partir dos 40 ou 50 anos.

Causa 

Envelhecimento extrínseco (exposição a RUV) e em menor medida envelhecimento intrínseco (idade).

Qual é a sua importância?

São indicadores de danos actínicos e portanto de maior probabilidade de desenvolver cancro da pele.

Têm tratamento?

É habitual combinar tratamentos despigmentantes tópicos à base de retinoides e outros despigmentantes com métodos mais específicos.

 

(3) Em que consiste a hiperpigmentação pós-inflamatória?

Consiste em manchas escuras que se desenvolvem, após qualquer tipo de inflamação da pele. É especialmente frequente em pele escura. Também existe uma tendência individual que faz com que o problema reapareça nas pessoas com essa tendência. Neste caso, são manchas escuras irregulares em áreas que se inflamaram previamente e podem aparecer em qualquer parte da pele, não apenas nas zonas expostas ao sol.

Têm tratamento?

É de evitar qualquer possível fonte de inflamação tais como os lasers agressivos. É habitual começar com produtos tópicos não irritantes como o ácido kójico, retinóides suaves e, apenas em alguns casos, a hidroquinona. No entanto, os resultados obtidos são parciais, pelo que em alguns casos se pode combinar, de forma cuidadosa e com uma preparação adequada, com certos tipos de luz como a luz pulsada intensa em doses muito baixas. E evidentemente, a fotoproteção será imprescindível.

 

(4) Em que consiste o escurecimento periocular?

Tanto homens como mulheres podem apresentar escurecimento circular à volta dos olhos. Ainda não foi possível determinar as causas exatas, mas é possível que se deva a uma atrofia cutânea que leva à visualização dos vasos sanguíneos.

Que tratamentos existem?

Os lasers de pigmento Q switched podem ser uma boa opção combinando-os com cremes formulados à base de despigmentantes. No entanto, como já referimos, neste caso o problema não é a síntese excessiva de melanina, mas sim a presença de hemossiderina nesses vasos sanguíneos, razão pela qual os resultados são parciais.

 

Cantabria Labs: Para terminar, Dra. Mayte, fale-nos do papel da maquilhagem corretora neste tipo de problemas de pigmentação.

MT: Este tipo de maquilhagem com maior poder de cobertura que o convencional pode ser uma excelente ferramenta para camuflar estes problemas de pigmentação. A forma de aplicação é especial e diferente da aplicação da maquilhagem convencional e deve ser removida com desmaquilhantes de base oleosa. Para camuflar os tons castanhos utiliza-se maquilhagem em tons amarelados ou esbranquiçados, e em fototipos escuros os tons alaranjados.

 

Cantabria Labs: Muito obrigada Dra. Mayte, por tudo o que nos disse sobre as indesejadas manchas da pele. Tê-la como colaboradora do “Rigorosos a Cuidar” é um enorme privilégio.

 

Entrevista exclusiva para a Cantabria Labs.

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